[DIY] — For Aslam!

Alexandra havia nascido em um mundo dominado por monstros, onde os deuses eram reais e, inclusive, a própria era filha de um dos deuses mais poderosos, nasceu e cresceu em uma ilha mágica dominada por mulheres guerreiras e governadas por uma soberana. Apesar de tudo isso, a centuriã era completamente cética.

As orbes azuladas observavam todos os objetos da forja de Cassandra com atenção e com a testa franzida. O que mais admirava na melhor amiga era a maneira como ela conseguia pegar um simples garfo e transformá-lo na coisa mais estranha que surgia em sua mente. E a mente de Cassandra era um lugar que Alexandra nunca queria visitar.

Não sabia o que metade daqueles objetos era ou para que eles seriam usados, se estavam prontos ou não... Mas a sua curiosidade não a impedia de observá-los como a obra de arte que Cassandra provavelmente os transformaria mais tarde, mas agora não estava ali para admirar os trabalhos da filha de Vulcano e sim para convencê-la a dar um tempo em seu novo projeto.

Alexandra era a última de seus amigos a tentar convencer Cassie a dar um tempo. O primeiro havia sido Bryan que retornara poucos minutos depois, vencido pelos argumentos dela. Depois, havia sido o outro von Schönborn, também vencido. A filha de Plutão havia encontrado o gêmeo saindo pelo corredor que encontrava-se a forja da filha de Vulcano. Passou por ele somente para obter como resposta as duas mãos erguidas, em um sinal claro de sua desistência.

Era sua vez agora.

— Escute, você está aqui faz doze dias. Desista, Cass, não há nada dessa merda de realidade alternativa. — não queria ter soado tão ríspida ou descrente quanto as crenças da amiga, mas precisava tirá-la de lá. Havia algo que não cheirava muito bem na forja e Alexandra temia que fosse Cassandra.

Ela não havia lhe dado bola, no entanto, focada no que fazia. Cassie desenhou um grande buraco em sua parede, por onde uma luz rosada começou a sair. Tudo que estava próximo daquela área começou a ser sugado, mas isso pouco importou para a filha de Plutão quando, em choque, notou que a sentinela havia estado certa todo esse tempo. Havia mesmo outra dimensão.

Um passo para frente foi tudo o que precisou ser dado para o buraco sugar Alexandra para dentro de si. Ela fechou os olhos com força e tentou sumir por entre as sombras ou retornar para forja, mas sentiu seu corpo caindo contra algo sólido e um barulho de farfalhar de folhas.

Abriu os olhos, encontrando-se em uma floresta. O chão abaixo de si estava cheio de folhas secas e as árvores projetavam-se altas ao seu redor, com apenas um pouco de sol espreitando-se por entre os galhos altos e repletos de vida. Apoiou ambas as mãos no chão para se levantar e, no primeiro passo que deu para frente, foi sugada para o interior de uma espécie de rede, que se ergueu para o alto levando-a junto.

— Cass, se isso for mais uma de suas brincadeiras eu juro que te bato. — gritou para o nada, a mão tateando a parte de trás da sua calça, a procura do denário negro que se transformava no grande machado de combate.

Os dedos de Alexandra se fecharam sobre a abertura da porta, segurando-se contra aquelas amarras quando tremularam pelo seu movimento recente de tirar o machado de seu bolso traseiro. Sentiu a superfície lisa de Balerion quando notou que seria algo inútil, a distância entre onde ela estava e o chão era demais para sair sem um par de ossos quebrados.

Não demorou para Cassandra aparecer em algum lugar abaixo de si, antes de caminhar por entre as árvores, provavelmente a procura do dispositivo que a mantinha no ar. Foi então que os olhos cinzentos notaram a figura que se aproximava da melhor amiga. A encarou com surpresa, chocada demais com a aparência gótica de Francesca para alertar Cassie de sua presença.

Um erro, pois no momento seguinte uma adaga havia sido pressionada contra o pescoço da filha de Vulcano.

— Calma… — disse a voz — Se vocês cooperarem, talvez eu deixa uma viver até o fim da noite.

Alexandra arqueou uma sobrancelha na direção de Francesca.

— Fran, o que você está fazendo? — questionou Alexandra.

Ela franziu o cenho quando uma outra figura apareceu atrás dela, assustando ainda mais a filha de Plutão. Um dos melhores amigos de Alexandra encontrava-se parado atrás da garota, os olhos arregalados de medo enquanto a adaga em suas mãos que tremiam de modo descontrolado.

— D-d-deixe elas irem. — Bryan gaguejou, suor escorrendo por sua testa.

Alexandra agradecia que seu olhar não pudesse — pelo menos até onde ela sabia — matar uma pessoa. Se pudesse, sua melhor amiga estaria morta agora. Talvez depois se arrependesse até do mero pensamento que cruzava sua mente, mas enquanto encontrava-se suspensa no ar, com a bunda doendo pela péssima posição em que fora pega pela rede.

Ainda do alto, observou Bryan e Francesca entretidos em uma luta e não conseguiu segurar a risada que escapava por seus lábios. Aquele tipo de ação corporal não era a que eles estavam acostumados e, para alguém que tinha a cama próxima demais a de Bryan, Alexandra tinha certeza que preferia bastante a cena diante dos seus olhos.

A luta entre os dois não demorou a terminar. A surpresa maior se deu não pelo fato de eles não terminarem aquela luta aos beijos, mas a derrota de Bryan. O garoto era um dos melhores legionários do Acampamento Furna e ela nunca havia o visto perder uma luta.

Cassie foi rápida em livrá-la da rede suspensa com um pedido de desculpas culpado o bastante para amolecer o coração de Alexandra e, agora que voltava a sentir a sua bunda, não estava, de fato, tão brava com a amiga.

— Está tudo bem, Cass. — a tranquilizou, voltando seu olhar para o casal mais a frente — De todas as maneiras que imaginei morrer, nunca pensei que seria para uma versão gótica da Fran.

Levou as mãos ao bolso traseiro, sentindo o contorno de ferro estígio de Balerion com a ameça clara nas palavras de Francesca. Com o rosto de sua amiga ou não, não deixaria que machucasse Cassandra ou a si mesma.

— Francesca, eu sou Alexandra e essa é Cassie. — apontou para si mesma, em seguida, para a garota ao seu lado — Cass é uma construtora, filha de Vulcano. Ela estava construindo algum tipo de portal para uma realidade alternativa. Aparentemente funcionou, por isso, estamos aqui. Acabamos de chegar e eu juro que não deu tempo para estragarmos nada.

Quando estava se acostumando com a ideia da real possibilidade de existir uma realidade alternativa, Alexandra descobria que essa realidade não era nada com a qual estava acostumada. Fran era gótica, Bryan era covarde, o mundo parecia estar mais errado que era na realidade a qual Alexandra pertencia realmente.

Escutou com atenção o que a oposta versão de sua amiga dizia, mordendo os lábios ao ponderar sobre aquele outro mundo. Se havia uma versão de Fran e Bryan, onde estava o resto de seus amigos? Teria uma versão sua e de Cassie também? Procurou os olhos de Cassandra, o próprio lábio inferior preso entre os dentes.

— Tem algum lugar em que Cassie e eu podemos conversar tranquilamente? — perguntou, os olhos vasculhando o lugar — Eu acho que quanto menos pessoas souberem de onde realmente somos, melhor será.

Francesca levou Alexandra e Cassie para dentro de um chalé muito semelhante aos alojamentos das Coortes. O pedido por privacidade não pareceu agradar a legionária que, suspeita, deixou um semideus para guardar a porta, como se a qualquer momento Cassandra fosse tirar sua prótese e começar a atirá-la contra a cabeça das pessoas. Apesar de isso já ter acontecido no Acampamento Furna.

Sentou-se na borda da mesa, os pés balançando contra o ar enquanto observava o quadro de um homem com roupa engraçada brandindo uma espada com o cenho franzido em uma tentativa inútil de compreender a imagem.

— Você estava construindo alguma coisa que poderia explodir nossas cabeças? — no momento em que a pergunta abandonou os lábios de Alexandra, ela se arrependeu disso. Com Cassie, algumas coisas era melhor não saber.

A fala sobre seu irmão desencadeou uma série de pensamentos na mente da centuriã. Se aquele mundo continuava uma réplica quase perfeita — ou seria oposta? — do mundo que ambas as garotas pertenciam, era de supor que existia uma Alexandra e uma Cassandra ali.

—  O que nós precisamos para sair daqui? Cass, por que não há nenhuma versão nossa por aqui?

A pergunta mal havia deixado os lábios de Alexis quando a porta se abriu e a figura de Stephen passou por ela, juntamente com Shibe e um par de filhotes. A versão 2 do garoto usava uma camiseta verde com grandes letras amarelas, onde a frase "SALVE OS ANIMAIS: pelo fim da extinção dos drakons" estava estampada.

— Ah, olá. — cumprimentou surpreso — O Acampamento está sob ataque... De novo... Minha cadela acabou de ter filhotes então eu vim deixar eles em segurança... É... Estou indo agora.

De modo relutante, Stephen 2 abandonou o chalé ao tempo em que Alexandra saia de cima da mesa e tirava o denário do bolso. Optou por ignorar o que acontecera, sua mente não conseguiria lidar com aquilo, ao tempo em que o denário transformava-se no usual machado de guerra.

— Eles são a nossa melhor chance de ir embora daqui... Então suponho que temos que ajudá-los, não?

Francesca levou Alexandra e Cassie para dentro de um chalé muito semelhante aos alojamentos das Coortes. O pedido por privacidade não pareceu agradar a legionária que, suspeita, deixou um semideus para guardar a porta, como se a qualquer momento Cassandra fosse tirar sua prótese e começar a atirá-la contra a cabeça das pessoas. Apesar de isso já ter acontecido no Acampamento Furna.

Sentou-se na borda da mesa, os pés balançando contra o ar enquanto observava o quadro de um homem com roupa engraçada brandindo uma espada com o cenho franzido em uma tentativa inútil de compreender a imagem.

— Você estava construindo alguma coisa que poderia explodir nossas cabeças? — no momento em que a pergunta abandonou os lábios de Alexandra, ela se arrependeu disso. Com Cassie, algumas coisas era melhor não saber.

A fala sobre seu irmão desencadeou uma série de pensamentos na mente da centuriã. Se aquele mundo continuava uma réplica quase perfeita — ou seria oposta? — do mundo que ambas as garotas pertenciam, era de supor que existia uma Alexandra e uma Cassandra ali.

—  O que nós precisamos para sair daqui? Cass, por que não há nenhuma versão nossa por aqui?

A pergunta mal havia deixado os lábios de Alexis quando a porta se abriu e a figura de Stephen passou por ela, juntamente com Shibe e um par de filhotes. A versão 2 do garoto usava uma camiseta verde com grandes letras amarelas, onde a frase "SALVE OS ANIMAIS: pelo fim da extinção dos drakons" estava estampada.

— Ah, olá. — cumprimentou surpreso — O Acampamento está sob ataque... De novo... Minha cadela acabou de ter filhotes então eu vim deixar eles em segurança... É... Estou indo agora.

De modo relutante, Stephen 2 abandonou o chalé ao tempo em que Alexandra saia de cima da mesa e tirava o denário do bolso. Optou por ignorar o que acontecera, sua mente não conseguiria lidar com aquilo, ao tempo em que o denário transformava-se no usual machado de guerra.

— Eles são a nossa melhor chance de ir embora daqui... Então suponho que temos que ajudá-los, não?

Alexandra nunca tinha sido alguém que se arriscaria para salvar outra pessoa — com grandes, raras e únicas exceções já conhecidas —, mas tanto ela quanto Cassie precisavam sair logo daquele lugar e se isso significava uma luta ao lado de versões alternativas das pessoas que conhecia, a filha de Plutão não via problema nenhum em participar de uma guerra.

A trombeta de guerra finalmente soou por toda a extensão do acampamento improvisado e Alexandra e Cassie estavam fora do chalé mais rápido que Stephen se abaixava para esconder-se de baixo da mesa, levando a centuriã a crer que apenas os covardes — daquele mundo — haviam ficado ao lado naquele lugar.

Tanto Balerion quanto Ascension estavam em suas mãos no momento em que Cassandra a olhava seriamente. Não precisava carregar nenhum elo empático com a melhor amiga para entender a sugestão explicita em seu olhar. Puxou uma respiração profunda e virou-se para a desordem de semideuses que se formavam precariamente a sua frente.

— Legionários, em formação! — a voz saiu autoritária e, para alguém que não gostava de dar ordem, foi seguida quase de imediato.

Os passos de Alexandra eram firmes contra o solo, com uma semi-legião se formando atrás de si. Postaram-se em frente a legião inimiga quando os olhos azulados encontraram aqueles idênticos ao seu, a expressão transformando-se em choque puro.

— Alexis? — o seu nome abandonou os lábios de Harry carregado de surpresa e dor.

Enquanto isso, uma raiva incomum dominou o peito de Alexandra. Ela brandiu Balerion, os olhos fixos nos do irmão.

— Por Roma! — gritou, antes de avançar para a batalha.

Alexandra tinha que dar crédito a versão alternativa de seu irmão; assim como a real, ele havia sido muito bem treinado, conseguindo aparar o golpe da lâmina negra de Balerion com perícia. Sua defesa havia sido precisa, a espada  negra  — que não era nada como aquela que o seu Harry possuía — mal tremendo ao ter toda a fúria do submundo dirigida à ela.

Os olhos de Harry eram estreitos em sua direção, a surpresa ainda não havia abandonado a expressão em seu rosto. O que quer que fosse que tivesse acontecido com a sua própria versão naquela realidade, uma coisa era certa: Harry a reconhecia, ele sabia quem ela era.

Empurrou o legionário para trás usando o próprio encontro de suas armas e se preparou para atacá-lo novamente quando a voz notável de Cassie chegou até ela entre gritos. Afastou-se do garoto e se dirigiu até a melhor amiga, a guerra, aparentemente, havia pausado.

Ouviu o que a amiga dizia, assim como a versão gótica de Francesca e entendeu o plano que se passava pela cabeça da filha de Vulcano. Odiava ver o seu Balerion — mesmo que fosse o Balerion da sua outra versão — nas mãos de alguém como Kira. Foi quando uma ideia cruzou sua mente.

Um sorriso deslizou por seus lábios ao tempo em que controlava o metal no ferro estígio do outro Balerion, levitando-o pelo ar de encontro com a própria mão, já esticada para recebê-lo. Virou-se para o exército inimigo, mas os olhos estavam em seu irmão.

— Balerion foi um presente do próprio Plutão para uma Amazona, que passou a sua única filha mulher. A arma nunca seria tirada de sua portadora por direito. Essa arma não pertence a ela, Kira é uma impostora. Com ela, vocês nunca ganharão guerra nenhuma.

A declaração de Alexandra se perdeu no ar, com todos os semideuses dividindo seus olhares entre Francesca e Kira, as duas líderes opostas. O olhar da filha de Plutão se voltou para Harry, como em um aviso não verbalizado. Era a chance dele de tomar o melhor lado daquela guerra desnecessária. Se fosse o seu irmão de verdade ali, Alexandra provavelmente chutaria a sua bunda até ele ter aprendido a lição.

Havia uma guerra mais importante a ser vencida e nenhum deles iria para lugar lutando um contra os outros.

A legionária se distraiu por um momento e, quando notou, Harry se preparava para vir em sua direção, sendo interrompido por um rugido alto. Os olhos de Alexandra voltaram-se para o céu, vendo uma criatura gigantesca surgir das árvores e pousar próximo de si. De relance, sentiu a mão de alguém em seu pulso, mas não conseguiu desviar os olhos do esplendido dragão a sua frente, fascinada. Nunca havia visto nada tão bonito.

O dragão aproximou seu rosto da garota em uma reverência, os olhos vermelho-sangue piscando-se demoradamente em reconhecimento. Alexandra se aproximou ainda mais dele, a mão pálida se esticando para tocá-lo logo acima das narinas, algo lhe dizia que ele não lhe faria mal, não a ela. Sua mão tocou as escamas e sentiu o dragão ronronar baixinho, como se o seu toque o agradasse.

— Você é tão bonito... — a voz de Alexandra não passava de um sussurro, podia ouvir as vozes atrás de si, mas sua atenção permaneceu focada no dragão.

O dragão piscou longamente por mais uma vez, deixando uma lágrima piscar por seus olhos. Uma terceira pessoa se aproximou e foi quando Alexandra tomou consciência de que a pessoa segurando seu pulso era Cassandra e Francesca aproximou-se delas para dizer que, finalmente, acreditava nelas.

As duas, enfim, haviam descoberto o que tinha acontecido com as suas próprias versões alternativas, apesar de ainda estarem longe de terem todas as perguntas que gostariam antes de voltar para o seu mundo. Seus olhos encontraram os de Cassie ao seu lado, balançando a cabeça. A sua Cassandra não seria enterrada viva por terra, Alexandra teria a certeza disso. Ambas morreriam aos 125 anos de idade, dividindo um sorvete de baunilha da Tia Elsa.

Drogon soltou um bufo e moveu sua cabeça para o lado, esticando a grande asa. Alexandra estreitou os olhos para a criatura até compreender o que ele queria. Ele queria mostrá-las alguma coisa. Era por isso que estava ali.
— Ele provavelmente quer nos levar para lá, Cass.

A legionária virou-se para Francesca, entregando o machado que havia pego de Kira.

— Balerion é seu, Francesca. Tenho certeza de que eu e Alexandra concordaríamos que você é a portadora por direito do Terror Negro.

Seu olhar voltou para a Harry. No seu mundo, se ela morresse, haviam apenas três pessoas que ela julgava merecedor da arma. Nesse mundo, Harry não estava na lista. Cassandra havia morrido e Stephen provavelmente não poderia portá-lo. Nesse mundo, Francesca era a merecedora.

Sorriu para Cassie antes de subir nas costas de Drogon com passos cuidadosos para não machucá-lo. Segurou-se com força contra os chifres que adornavam a cabeça da criatura. Por mais encantada que tivesse com a ideia de voar em um dragão, Alexandra ainda morria de medo de altura.

Desde pequena, Alexandra cresceu crendo que a melhor coisa que ela poderia fazer era lutar. A sensação que dominava seu corpo e sua mente quando estava em combate era quase indescritível, a legionária sabia que havia nascido para isso, nunca sequer cogitou a possibilidade de duvidar daquilo.

Até o dia em que voou em Drogon pela primeira vez. A criatura voava em uma velocidade absurda, o vento batia em seu rosto, levantando seu cabelo e ocasionando em risadas que soavam estranhas até mesmo para a própria garota. Voar em um dragão era libertador e se Alexandra nasceu para lutar, ela também havia nascido para aquilo.

Drogon começou a diminuir sua velocidade até pousar em um largo campo de girassóis. Esperou Cassandra descer das costas do dragão antes de fazer o mesmo.

— Eu consigo sentir todos os metais lá em baixo. Aqui com certeza é sua forja. — murmurou para amiga, esticando a mão para acariciar as escamas da barriga de Drogon.

Fechou os olhos para se concentrar em todos os metais que podia sentir nos túneis subterrâneos. Podia sentir uma quantidade absurda de ouro imperial, prata, cobre... O que realmente chamou sua atenção foi uma quantidade de bronze — um material incomum para a forja romana — logo acima da superfície. Aquilo seria a entrada delas.

Abriu os olhos ao ouvir a voz de Harry, virando-se para encontrá-lo com as mãos tampando a boca de Cassandra, enquanto uma corrente negra envolvia seu corpo. Os olhos dela a encararam, arregalados. Drogon rugiu em protesto e se virou, o rabo atingindo Harry nas costas.

O corpo do garoto caiu para o lado, enquanto Alexandra controlou as correntes para libertar a amiga. Concentrou-se para abrir o alçapão de bronze, observando-o deslizar como um mecanismo enferrujado.

— Cass, vá para forja, eu cuido dele. — disse para amiga, a ajudando a ficar de pé.

Girou o denário negro em suas mãos, segurando em seu cabo quando ele se transformou em Balerion. Harry, a sua frente, já havia se recuperado e portava a espada negra que eles haviam lutado anteriormente. Agora, era uma luta até morte.

De frente para o ele, Alexandra notou o quanto ela era menor que Harry. O topo da sua cabeça alcançava somente a linha do queixo do oponente e o sorriso provocador que ele lhe lançava era o suficiente para fazer o temperamento tão característico da semideusa emergir.

Apertou o cabo do machado com força, o punho adaptando-se a palma da sua mão como se tivesse sido forjado para exclusivamente para ela. Alexandra puxou uma respiração profunda e deu início ao duelo.

O machado ergueu-se na vertical, da extremidade inferior esquerda, subindo para a direta até o rosto. Harry foi rápido em desviar, o corpo projetando-se para a sua direita; a esquerda de Alexandra. Ela, no entanto, não hesitou, seu instinto emendando um segundo golpe tão rápido que a semideusa mal processou o que fizera, somente sentiu o punho movendo-se na horizontal desmedido. Desse golpe, Harry teve um bom trabalho de desviar, tendo que dar um leve salto para trás.

O legionário ergueu a sobrancelha para ela. Alexandra suspendeu Balerion no ar novamente, dessa vez, partindo com um golpe de cima para baixo, aparado pela grande espada do legionário. O som de metal batendo contra metal dominou o campo, retinindo aos ouvidos da filha de Plutão, enquanto ela se abaixava e, em meio a um giro, tentou dar uma rasteira nas pernas de Harry.

Ele conseguiu desviar do chute com um salto ao tempo em que Alexandra se levantava com uma estocada do machado na horizontal, golpe este que foi aparado mais uma vez pela espada da cópia má de seu irmão.

Os olhos atentos da legionária identificaram uma falha na postura do garoto que, preocupado demais em evitar o golpe do machado, baixou a guarda, dando a brecha que Alexandra precisava. Em questão de segundos, o cabo negro de Balerion tinha entrado em contato com a bochecha esquerda de Harry, com força o suficiente para tê-lo virando o rosto na direção do golpe.

O semideus deu alguns passos para trás, mais pela surpresa do ataque do que pela força da semideusa em si, sua mão ergueu-se em direção a bochecha, onde um filete de sangue começava a escorrer pelo canto de sua boca.

Harry limpou o sangue e cuspiu no chão, então ele virou um monstro.

Partiu para cima de Alexandra com ferocidade, atacando por todos os lados que podia. Iniciou com um movimento de arco; sua espada chocando-se com força contra a arma da legionária, a forçando a recuar alguns passos. Ele se moveu para frente, estocando na altura do abdômen da garota, cabendo a aula saltar para trás e, em meio a um giro seguido por um salto, projetar Balerion sobre o peito dele. Um ataque limpo e completamente mortal se não fosse pela espada de Harry, pairando na diagonal e interceptando o golpe.

Ele aproveitou a distância segura entre ambos, chutando Alexandra no estômago com tamanha força e brutalidade que o corpo magro da garota foi jogado para trás, o ar abandonando os seus pulmões, perdendo o seu machado alguns metros à frente.
A prole de Plutão mal teve tempo de se recuperar. Puxou uma respiração profunda e necessitada, a tempo de ver o legionário pairando sobre si com a espada erguida. Mantendo os pés firmes contra o solo, o quadril de Alexandra dobrou-se para a direita apenas o suficiente para desviar da investida de Harry, ao tempo em que ela retirava sua adaga da cintura. Balerion estava muito longe para ajuda-la dessa vez.

A adaga em sua mão esquerda estocou contra o flanco direito descoberto de Harry, perfurando de leve a pele cerca de um palmo abaixo da axila, onde a armadura que ele usava não o protegia. O golpe, apesar de bem executado, tinha dado brecha para ele ataca-la. A espada do semideus passou de raspão pelo rosto de Alexandra, fazendo um corte um pouco abaixo do olho, alguns centímetros para cima e Cassandra não seria a única deformada no grupo.

Ela retrocedeu alguns passos e esticou e mão para o machado, controlando o Ferro Estígio para que viesse até ela. Não demorou para Balerion estar seguro nas mãos de sua portadora e Alexandra estar estocando novamente contra o adversário. Era a primeira vez que Alexandra adotava o estilo de luta e a figura de uma amazona desde que abandonara a ilha de Temiscira.

Infelizmente, Harry era muito bem treinado e muito mais forte que Alexandra. A legionária, no entanto, sabia como anular a força dele com a sua agilidade. Dahlia a tinha treinado para destronar a soberana das amazonas, a mulher mais forte e a melhor guerreira que a garota tinha visto lutar.

Após Harry desviar do seu ataque horizontal, Alexandra controlou e concentrou as sombras dos campos cerca de dois metros atrás de seu oponente, transportando-se para lá e em um salto, golpeou a base da nuca dele com Balerion, criando um talho na armadura que ele vestia, abaixando-se para realizar um corte na parte de trás do joelho dele.

O legionário tombou a sua frente, caindo de joelhos no solo irregular, dando a impressão que a batalha estava vencida para Alexandra.

Um doce engano.

Ele apoiou a ponta da espada contra o chão e, em um golpe rápido, a segurou com o punho virado, a lâmina projetando-se para trás dele, na frente de Alexandra, atingindo sua coxa em cheio antes de Harry puxar a espada de volta, o sangue começando a escorrer pela calça.

A prole de Plutão não gritou, apesar de sua boca ter aberto em protesto a dor. Ela segurou Balerion com ambas as mãos, reunindo todas as forças dentro de si antes de bater com o cabo do machado de combate contra a lateral da têmpora do garoto, com força o suficiente para fazê-lo desmaiar.

Alexandra suspirou, seu corpo a traindo. Ela cambaleou para trás, ambas as suas armas indo de encontro ao chão ao tempo em que a própria legionária seguia o mesmo caminho, antes de um par de braços fortes a segurarem. As orbes azuis procuraram o dono dos braços, surpreendendo-se ao encontrar a segunda versão de Stephen.

— Eu e Bryan viemos para avisar vocês. Harry fugiu logo depois de vocês saírem. Sinto muito não conseguirmos chegar a tempo. — Stephen disse, a mão de Bryan pressionou o ferimento em sua perna, fazendo a semideusa ranger os dentes de dor.

— Me leve lá para baixo. Cass pode me ajudar. — murmurou.

Stephen assentiu, a pegando no colo com mais facilidade do que Alexandra teria dado crédito. Bryan se afastou, pegou a corrente que havia prendido Cassandra e se aproximou de Harry, colocando o corpo desacordado dele em seus ombros. Começou a perder a consciência quando Stephen começou a descer as escadas para a forja de Cassandra.

Os pés descalços de Alexandra tocaram o chão, estranhando a camada fina de água que cobria o chão branco, assim como a névoa no mesmo tom. As orbes azuis olharam ao redor, tentando reconhecer o ambiente em que se encontrava e um calafrio percorreu seu corpo ao se deparar com o seu aposento em Temiscira, exceto que não parecia real. Parecia um sonho.

Caminhou até a sua janela, mas a vista não era a mesma. Era apenas a eterna cor branca se estendendo pelo horizonte. Alexandra nunca tinha visto algo semelhante com aquilo.

— Esse não é um lugar peculiar. — uma voz masculina soou ao seu lado. Os dedos longos e frios tocaram seu ombro, com um anel de caveira brilhando na escuridão. O homem vestia um terno escuro, com uma gravata negra de listras platinadas. A camisa era do mesmo tom de cinza de uma lápide e seu rosto era tão pálido que sua pele possuía um tom azulado, como leite frio. O cabelo negro e oleoso encontrava-se lambido contra o couro cabeludo. — Você não tem muito tempo. Precisa escolher.

Alexandra sabia o que ele falava, havia sonhado com aquilo há tanto meses atrás. Sempre imaginou que se tratava sobre sua morte, nunca tinha imaginado a situação.

— Eu posso escolher?

O homem assentiu.

Ela se virou, encontrando seu próprio corpo disposto sobre uma mesa. Stephen estava ao seu lado, uma de suas mãos segurando a sua, enquanto Cassie segurava a outra. Bryan estava a seus pés, uma expressão apreensiva enfeitando seu rosto. A distância, o corpo desacordado de Harry estava apoiado contra a parede.

Não.

Não seria assim que ela morreria. Se fosse morrer fora de seus planos não seria em um universo alternativo com as versões alternadas de seu irmão, do seu melhor amigo e do namorado e, pior ainda, na frente de sua melhor amiga. Cassandra era real e elas tinham que voltar para casa. Juntas.

Não seria assim que Alexandra Black morreria.

— Eu quero voltar. — a sua voz soou estranha para seus próprios ouvidos, distante.

— Acreditava que fosse.


Os olhos de Alexandra se abriram, dessa vez, na forja de Cassandra.

— Por favor, diga-me que estamos prontas para ir para casa. — pediu.

O sorriso de Cassandra trouxe um semelhante ao rosto de Alexandra, aceitando sua ajuda para descer da mesa ao tempo em que ignorava os estranhos olhares que eles lançavam em suas direções. Quando colocou a perna machucada no chão, sentiu a mesma latejar em protesto, revelando que ainda não estava completamente curado.

Pegou um bastão de metal que encontrou e o apoiou contra o chão, conseguindo dar um passo sem sentir tanta pressão sobre o ferimento. Observou o corpo desacordado de Harry e suspirou, contente que o verdadeiro irmão não era nada como aquele homem parado a sua frente. Virou seu olhar para Stephen e Bryan, uma risada baixa deixando seus lábios enquanto se aproximava deles.

— No meu mundo, vocês dois são duas das pessoas mais corajosas que eu conheço. — Alexandra julgou que eles mereciam saber um pouco mais sobre suas versões, afinal, ela provavelmente não estaria viva se eles não a tivessem encontrado — Bryan me salvou tantas vezes que é impossível contar todas. E Stephen, mesmo quando não gostava de mim, me salvou de um destino pior que a morte. Eu sei que vocês também tem isso dentro de vocês, afinal, não teriam vindo tão longe para nos avisar.

Cassandra a guiou para o campo novamente, onde Drogon estava deitado contra os girassóis. Aproximou-se do dragão com um sorriso triste em seus lábios, apoiando a testa contra a lateral de seu rosto.

— Não sei o que aconteceu, Drogon, mas eu nunca me apaguei a um amigo tão rápido como me apaguei em você. Cuide-se, Drogon. Você é o melhor dragão do mundo. Se pudesse, eu te levaria junto comigo

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Alexandra conforme ela mancava para longe de seu mais novo amigo, tratando de secá-la antes que alguém visse. Desceu as escadas para forja em silêncio, ela tinha perdido Drogon, mas em casa teria sua família verdadeira.

Armas:

V&D:

Poderes: